O avanço da inteligência artificial não esbarra apenas em questões técnicas, de progresso tecnológico, é também uma disputa geopolítica. O temor que muitos têm sobre um avanço desenfreado da IA também implica num acúmulo de poder para certas nações que se destacam nesse campo da IA. Os Estados Unidos entende justamente dessa forma, e já está traçando um novo conjunto de regras para limitar investimento em IA e semicondutores na China.
O jogo de Xadrez
A ideia do governo americano, que segue batendo na tecla da segurança, e um combate a vigilância, é usar meios para frear o avanço chinês em tecnologias de IA que poderiam ser utilizadas para fins miliares, inteligência, vigilância em massa e guerra cibernética. Atrelado a isso, frear o avanço da China também representa menos amplitude de mercado para o rival.
O plano de ascensão da China no mercado de IA esbarra na dependência tecnológica proveniente dos americanos. E, graças a essa dependência direta, os EUA tomam diversas atitudes que impactam diretamente as empresas chinesas, como o veto de exportação de chips para o país. Dificultando, ou praticamente inviabilizando, o plano chinês de liderar o mercado de IA até 2030.
Em maio, a China anunciou a criação de um fundo de US$ 47,5 bilhões para impulsionar o mercado de semicondutores, essencial para o progresso da IA. A norte-americana NVIDIA, que alcançou o patamar de empresa mais valiosa do mundo, vem crescendo vertiginosamente justamente por sua proficiência no fornecimento de chips fundamentais para alimentar os supercomputadores que mantém o ChatGPT e outras aplicações de pé.
Dentre as maneiras como os Estados Unidos adotaria para aplicar dano a China, estaria, por exemplo, na limitação do uso de transistores baseados em “gate all-around” (GAA), que prometem superar a tecnologia FinFET em um ponto muito importante: desempenho por watt. Grandes players do mercado já estão se digladiando para o progresso nessa tecnologia. A sul-coreana Samsung, por exemplo, com sua tecnologia GAA MBCFET (Multi-Bridge-Channel FET), seguindo o processo de produção de 3nm de segunda geração, promete que os chips fabricados terão um consumo 50% menor do que circuitos integrados de 5nm.
Do lado dos EUA, a Intel planeja iniciar a fabricação de semicondutores GAA, sob seu nó 20A (2nm) ainda em 2024. Vale recordar que a Intel receberá quase US$ 20 bilhões do governo dos EUA para expandir sua capacidade de produção. Expansão que evidentemente passa pelo GAA, ponto tecnológico crucial na corrida entre companhias e governos de seus respectivos países.
O governo americano também atua nos bastidores para limitar o acesso chinês aos equipamentos de litografia EUV (Extreme Ultraviolet Lightography), litografia com luz ultravioleta extrema, utilizados na produção dos chips de memória HBM de última geração, capazes de equipar aceleradores de IA de última geração.
Inicialmente, com as novas regras, a intenção dos EUA é limitar que investidores do país realizem transações como aquisições de capital, investimentos greenfield, empreendimento conjunto, financiar débito conversível, entre outras coisas. Num primeiro momento, as novas normas devem focar em regiões como Macau e Hong Kong, mas serão expandidos para outras regiões.